O que a teoria do apego pode nos ensinar sobre as nossas relações amorosas?

A teoria do apego foi desenvolvida pelo John, um psicólogo inglês que, nos anos 1950, sugeriu uma explicação psicológica para os vínculos e relações entre as pessoas. Segundo Bowlby (sim, esse é o sobrenome do John, mas como me sinto íntima dele, o chamo pelo primeiro nome mesmo), as pessoas nascem com a necessidade de desenvolver um apego seguro com os cuidadores ‒ ele ousou afirmar que essas conexões estabelecidas cedo na vida podem influenciar significativamente nas relações que estabelecemos na fase adulta. 

Ele não parou por aí, sugeriu também que o apego é a conexão psicológica duradoura entre os seres humanos, isso garantiu a nossa sobrevivência enquanto espécie, pois filhotes que mantêm a proximidade da mãe tem mais chance de sobreviver e crianças que buscam uma proximidade maior das figuras de apego têm mais chance de receber acolhimento e proteção. 

Já nos anos 1970, uma psicóloga chamada Mary aprofundou lindamente os estudos originais do John. Ela comprovou os efeitos do apego no comportamento humano e descreveu três tipos de apego: seguro, ambivalente-inseguro, evitativo-inseguro. Depois dela, outros pesquisadores sugeriram um quarto tipo de apego: desorganizado-inseguro.

A seguir, um breve resumo de cada um deles:

• Apego seguro: as crianças com apego seguro sentem-se seguras, amadas e amparadas pelos seus cuidadores principais. Elas sentem-se confortáveis em explorar os ambientes e procuram acolhimento e suporte quando necessário.

Indivíduos com apego seguro tendem a apresentar uma boa autoestima e estabelecer relacionamentos saudáveis na vida adulta. Além disso, têm facilidade em confiar, expressar suas necessidades e emoções como também conseguem apresentar um equilíbrio entre autonomia e proximidade;

• Ansioso/Ambivalente-inseguro: já nesse estilo de apego, observa-se que as crianças tendem a ser excessivamente dependentes dos cuidadores primários e, geralmente, demonstram-se ansiosas e inseguras em relação à disponibilidade destes. 

Na vida adulta, podem apresentar dificuldade em reconhecer o próprio valor e tornarem-se altamente sensíveis a sinais de uma potencial rejeição, assim, ficam muito apegados e exigentes nas relações amorosas. Sentem muito medo de serem abandonados e sofrem demais devido à insegurança;

• Evitativo-inseguro: aqui, os cuidadores são distantes e indisponíveis o que faz com que a criança aprenda desde cedo a negar as próprias necessidades de apego e a desenvolver uma independência precoce.

Em adultos, observam-se dificuldades em expressar emoções e/ou estabelecer relações de confiança e proximidade. Valorizam demasiadamente a independência e a autossuficiência em detrimento da intimidade emocional. Além disso, têm dificuldade de se comprometer realmente e focam muito em assegurar seu próprio espaço e liberdade;

• Desorganizado-inseguro: a característica principal deste estilo de apego é a ausência de padrões consistentes no comportamento da criança. Frequentemente, crianças com o estilo de apego desorganizado buscam acolhimento dos cuidadores, evitando contato visual quando interagem.

Esse estilo está muito relacionado a traumas em relações passadas ou cuidados inconsistentes na infância. Pessoas com esse estilo de apego têm muita vontade de vivenciar intimidade emocional com outra pessoa, mas ao mesmo tempo apresentam um medo, muitas vezes paralisante, de serem rejeitadas ou machucadas – um comportamento bem comum nesses casos é que buscam proximidade de alguém e, depois, sem nenhuma razão aparente, afastam-se do(a) parceiro(a).

Como mencionado no texto anterior sobre Estilos Parentais (ver aqui), nos Estilos de Apego também observamos que eles não são fixos e, sim,  multifatoriais. A teoria do apego pode ser útil para nos ajudar a entender melhor sobre a nossa própria história e esse texto é um convite para uma reflexão.

Aspiro que faça sentido para você ‒ reflita sobre o impacto das experiências precoces que geraram o seu sistema de apego no seu bem-estar atual, mas não apenas nisso como também nos padrões de comportamentos apresentados até hoje. 

Note que cada relação pode ativar estilos de apegos diferentes, dependendo dos comportamentos e da história emocional de quem estamos nos relacionando. Logo, os estilos de apego podem ser influenciados ou até mudados através do nosso autoconhecimento, crescimento pessoal e desenvolvimento de relacionamentos mais saudáveis. 

Por isso, me deixe saber se você consegue identificar o seu estilo de apego Você percebe que isso influencia/impacta a sua vida de alguma maneira?